SP 3 Vênus, Jac Leirner, Go, Teresa Berlinck, 1985 – Petite Galerie, Rio de Janeiro

José Roberto Aguilar, 1985

José Roberto Aguilar


É isso aí, a apresentação de um artista para outro artista é sempre uma tessitura existencial, de insights, de parcialidades e cumplicidades que contam a outra estória da arte, o lado escuro da lua.

ATENÇÃO, ATENÇÃO… SP-3, VENUS CHAMANDO DE TODAS AS BASES ESPACIAIS PARA O PLANETA TERRA… FALA PLANETA TERRA…

GO. Go é um gênia. Go é História. Não sei como ela se sente sendo isto, isto como rótulo. Espero que ela não acredite. O artista quando se identifica com a mensagem, a arte vira vampiro e o artista anêmico. Mas Go é roqueira como Teca e Jaq. Esta respiração de multi-linguagens é passaporte free para a sanidade. Go como Deus cria o Universo. Os sons, o Tempo, o Movimento, o Caos, a Harmonia, a Luz. Codificados nos quadros, que podem ser ideogramas, poemas, podem ser e são tudo. Atenção: é uma ponte para a codificação da linguística na pintura.A primeira que eu conheço. Go é acervo. Como VanGogh-Malevitch. More. Com a força titânica que a anima (alô, alô, Arnaldo) ela (es) navega (m) pelos oceanos de luz e trevas. Go como boneca russa. Enigmática. No fundo de uma tem outra. E outra. E outra. E outra. No fim, o nada. Meditação.

Jac, é a regra que disciplina a emoção. É aquela luz de tão branca que quase cega, ou a gente tem que usar óculos escuros. Quando digo Jac digo suas obras. Porque aqui a identificação é total. Jac assume o risco de ser mergulhadora de profundidade. Ela não incorpora o erro, a imperfeição. Ela comanda a harmonia. Suas obras são perfeitas. São únicas e cada uma se suporta a si mesma como totalidade, com toda a cristalinidade da linguagem. Não se esqueçam: com Jac só mesmo de óculos escuros.

Teca é Dionísio. Teca é bacanal. TECA É PINTURA. A pintura é orgia. Amarelo para cá, azul-ftalocianina pra lé, verde jorrando junto com o branco, o vermelho tocando pistão, é aquele puta baile maluco. Aquele jorro de vida sem nenhum significado em si a não ser a própria celebração da vida. Teca é Zorba. Teca é Tarsila. Teca é Pollock. Teca é Aguilar. Teca é Teca. Pois é Franco, ela é a pintora do nosso tempo. Pois é Franco, você tem uma puta exposição nas mãos. Se deu bem! Vai dar samba-enredo. Escrevendo esta apresentação me sinto empolgado como Pedro Álvares Cabral. Descobrindo o Brasil. Isto é, descobrindo o óbvio. Que a terra é redonda.

SP, 28 de Fevereiro de 1985
José Roberto Aguilar
(Swami Antar Vigyan)