Em 2018 a instalação Pai dos Burros foi apresentada no Sesc Rio Preto, São José do Rio Preto, São Paulo, SP
Pai dos Burros revisita o Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo, que mapeia o repertório de nossa cultura popular em milhares de verbetes. Erudito “sem erudições”, Cascudo devotou décadas a esta pesquisa, que considerava infinita: dizia que somos agentes e reagentes, portadores e intérpretes de culturas sobrepostas.
Uma edição de 1962 do Dicionário serve de mote e suporte aos desenhos de Teresa Berlinck, que há alguns anos vem desenvolvendo trabalhos a partir de uma coleção herdada de livros sobre o Brasil. Aqui, a artista pesquisa no Google Imagens os verbetes do topo de cada uma das 400 páginas da obra de Cascudo para encontrar as imagens que recria sobre as folhas soltas do livro – com nanquim, a pincel e bico de pena. Sintomáticas das mudanças contemporâneas nas formas de acesso e arquivamento da cultura, sobreposições e associações visuais emergem à maneira desordenada e sem hierarquia da nuvem digital.
Na intenção de (re)traduzir para a linguagem dos sons um repertório oriundo da tradição oral, o radioartista Julio de Paula, pesquisador da cultura popular brasileira, parte de verbetes do Dicionário (escolhidos por interesse, afinidade ou acaso) para criar a peça sonora multifônica que se justapõe aos desenhos. São cerca de 50 fragmentos poético-musicais que articulam formas e fontes igualmente diversas, entre entrevistas, depoimentos, ruídos, trechos musicais e paisagens sonoras extraídos de gravações de campo, acervos históricos, apropriações musicais, sessões com músicos e leituras comissionadas.
Texto Catarina Duncan, curadora CLIQUE AQUI
Para ouvir Pai dos BURROS, de Julio de Paula
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