A ideia de sair para desenhar na rua surgiu da necessidade de exercitar a observação da figura humana. Naquele momento eu queria dar um salto em minha prática, sair de onde estava para ir a outro lugar com meu desenho. Para isso precisava de modelos constantes e cotidianos, tipos humanos diferentes, de idades variadas e em todas as posições possíveis. A cidade foi o local onde encontrei essas pessoas. Durante seis meses observei gente nas ruas, praças e parques perto de casa, em ônibus, no metrô, em sessões de modelo vivo, em ateliês coletivos, no Mercado Municipal de São Paulo, no shopping, na praia e entre amigos.
Nessa experiência de olhos bem abertos observei também aspectos da relação entre modelo e desenhista, que acontece como um jogo: ao pedir permissão para desenhar as pessoas recebi negativas e testemunhei diferentes reações. No primeiro momento de negociação e de observação do modelo, minha sensação era de invasão. Com a exigência da concentração no trabalho iniciado, modelo e desenhista se entregavam a suas solitudes individuais e atentas, um posando, o outro desenhando. Ambos com um olho no peixe e outro no gato.