Vernacular Livro Aberto, 2016. Video: Mateus Capelo. Arte contemporânea. Artistas brasileiras.

Teresa Berlinck, em seu ateliê, fala sobre o trabalho Vernacular Livro Aberto, série desenhos sobre páginas de livros. A obra articula fotos de arquivos pessoais, imagens de plantas tropicais e trechos do livro “Sobre Fotografia” (1977), de Susan Sontag.

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Pinturas, 1996

apresentação

josé roberto aguilar, abril de 1995

conheço o trabalho e a própria teresa berlinck desde 1988, janeiro na ilha do mel, litoral do paraná, em frente à paranaguá. viajava como um easy-rider, on the road, sem nenhuma objetivação. sozinho, no trem que descia a serra de curitiba e paranaguá, conheci uma turma simpaticíssima de alunos do colégio equipe que me convidaram a me enturmar. entre eles arnaldo antunes, paulo miklos, go, nando reis, nuno ramos, teresa, vania passos, flávio smith e muitos outros. ficamos amigos e naquelas duas semanas de paraíso, conheci uma geração criativa, generosa, que lembrava minha geração e que dava de 10 na geração anterior vítima do ai-5 e da devassa da intelligentsia depois do golpe. em são paulo fizemos muitos trabalhos performáticos juntos. depois deu no que no que deu. música com os titãs, artes plásticas com a casa 7. teresa berlinck tem um ritmo diferente. como uma bomba de profundidade, um caminho pessoal de escafandrista, como se o esconder-se e o se mostrar fizesse parte de um jogo específico de arte. esta é a terceira apresentação de exposição que faço para teresa. a primeira foi em 1981 numa mostra de desenhos com teresa e vania passos. a segunda, numa exposição de jovens valores na petite galerie no rio, que incluía go, jac Leirner e teresa. esta terceira apresentação confirma a maturidade de navegação dos trabalhos de teresa.

vamos a eles: raio-x, raio-x, raio-x.
teresa trabalha com raio-x nos olhos.
ela elegeu como suporte a própria estrutura óssea. uma metáfora brilhante. aquilo que a mantem de pé é a linguagem. o osso é o porto do olhar raio-x. é a partir dele que tudo começa. mas é na sofisticação da trama que esta aventura acontece. less nunca foi tão more que nunca. com pouca tinta, teresa transmite muito. o poder de sugestão é  enorme. teresa não é estrela. depois do quadro pronto, sua criadora desaparece. a pintura é tudo. um conceito oriental digno dos mestres calígrafos japoneses e chineses. nada igual a nós. a cada pintura que fazemos, chamamos uma banda de música marcial e um baile acontece. mas teresa desaparece. A autora some. quem conta a história é o quadro. o processo para chegar a este resultado é muito elaborado. teresa utiliza um método de peeling, isto é, de descascar a pintura como se a camada primordial fosse por demais glamurizada, até atingir o grau de sugestionabilidade da tinta, ela mesma incapaz de sozinha achar seu objetivo. o nível de complexidade e sutileza em sua pintura fazem com que suas qualidades não sejam apreendidas ao primeiro olhar. não são pinturas fáceis, desafiam o espectador.
ao mesmo tempo que teresa convida para olhar para dentro, isto é, prestar atenção em seu suporte ósseo, ela convida para olhar para cima. cúpulas de igrejas. parâmetro de vôo. asas, celebração, olé de jogo ganho. uma exposição de maturidade com todo direito a champagne e alarde.

Colagens, 1989

Grandes formas que remetem a elementos da arquitetura, como vistas em corte de telhados, uma torre, padrões decorativos de pisos e detalhes de pinturas murais imaginadas. Construídas com fragmentos de páginas de livros de arte, foram em seguida agrupadas em zonas de cor, pintadas e impressas com xilogravura.

Orixás, 1997

SP 3 Vênus, Jac Leirner, Go, Teresa Berlinck, 1985 – Petite Galerie, Rio de Janeiro

José Roberto Aguilar, 1985

José Roberto Aguilar


É isso aí, a apresentação de um artista para outro artista é sempre uma tessitura existencial, de insights, de parcialidades e cumplicidades que contam a outra estória da arte, o lado escuro da lua.

ATENÇÃO, ATENÇÃO… SP-3, VENUS CHAMANDO DE TODAS AS BASES ESPACIAIS PARA O PLANETA TERRA… FALA PLANETA TERRA…

GO. Go é um gênia. Go é História. Não sei como ela se sente sendo isto, isto como rótulo. Espero que ela não acredite. O artista quando se identifica com a mensagem, a arte vira vampiro e o artista anêmico. Mas Go é roqueira como Teca e Jaq. Esta respiração de multi-linguagens é passaporte free para a sanidade. Go como Deus cria o Universo. Os sons, o Tempo, o Movimento, o Caos, a Harmonia, a Luz. Codificados nos quadros, que podem ser ideogramas, poemas, podem ser e são tudo. Atenção: é uma ponte para a codificação da linguística na pintura.A primeira que eu conheço. Go é acervo. Como VanGogh-Malevitch. More. Com a força titânica que a anima (alô, alô, Arnaldo) ela (es) navega (m) pelos oceanos de luz e trevas. Go como boneca russa. Enigmática. No fundo de uma tem outra. E outra. E outra. E outra. No fim, o nada. Meditação.

Jac, é a regra que disciplina a emoção. É aquela luz de tão branca que quase cega, ou a gente tem que usar óculos escuros. Quando digo Jac digo suas obras. Porque aqui a identificação é total. Jac assume o risco de ser mergulhadora de profundidade. Ela não incorpora o erro, a imperfeição. Ela comanda a harmonia. Suas obras são perfeitas. São únicas e cada uma se suporta a si mesma como totalidade, com toda a cristalinidade da linguagem. Não se esqueçam: com Jac só mesmo de óculos escuros.

Teca é Dionísio. Teca é bacanal. TECA É PINTURA. A pintura é orgia. Amarelo para cá, azul-ftalocianina pra lé, verde jorrando junto com o branco, o vermelho tocando pistão, é aquele puta baile maluco. Aquele jorro de vida sem nenhum significado em si a não ser a própria celebração da vida. Teca é Zorba. Teca é Tarsila. Teca é Pollock. Teca é Aguilar. Teca é Teca. Pois é Franco, ela é a pintora do nosso tempo. Pois é Franco, você tem uma puta exposição nas mãos. Se deu bem! Vai dar samba-enredo. Escrevendo esta apresentação me sinto empolgado como Pedro Álvares Cabral. Descobrindo o Brasil. Isto é, descobrindo o óbvio. Que a terra é redonda.

SP, 28 de Fevereiro de 1985
José Roberto Aguilar
(Swami Antar Vigyan)