Pintura
José Roberto Aguilar, 1995

Conheço o trabalho e a própria Teresa Berlinck desde 1981, janeiro na Ilha do Mel, litoral do Paraná, em frente a Paranaguá. Viajava como um easy-rider, on the road, sem nenhuma objetivação. Sozinho, no trem que descia a serra de Curitiba a Paranaguá, conheci a turma simpaticíssima de alunos do Colégio Equipe que me convidaram a me enturmar. Entre eles, Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, Go, Nando Reis, Nuno Ramos, Teresa Berlinck, Vânia Passos, Flávio Smith e muitos outros. Ficamos amigos e naquelas duas semanas de paraíso conheci uma geração criativa, generosa, que lembrava minha geração e que dava de dez na geração anterior vítima do AI-5 e da devassa da intelligentzia depois do golpe. Deu no que deu. Música com os Titãs, artes plásticas com a Casa 7.

Teresa Berlinck tem um ritmo diferente. Como uma bomba de profundidade, um caminho pessoal de escafandrista, como se o esconder-se e o se mostrar fizesse parte de um jogo específico de arte. Esta não é a primeira apresentação de exposição que faço para Teresa. A primeira foi em 1981 numa mostra de desenhos com Vânia Passos. A segunda, uma exposição de jovens valores na Petite Galerie no Rio, que incluía Go, Jac Leirner e Teresa. Esta terceira apresentação confirma a maturidade de navegação dos trabalhos de Teresa.

Vamos a eles: raio-x, raio-x, raio-x.

Teresa trabalha com raio-x nos olhos.

Ela elegeu como suporte a própria estrutura óssea.

Uma metáfora brilhante. Aquilo que a mantém de pé é linguagem. O osso é o porto do olhar raio-x. É a partir dele que tudo começa. Mas é na sofisticação da trama que esta aventura acontece. Less nunca foi tão more que nunca. Com pouca tinta Teresa transmite muito. O poder de sugestão é enorme. Teresa não é estrela. Depois do quadro pronto, seu criador desaparece. A pintura é tudo. Um conceito oriental digno dos mestres calígrafos japoneses e chineses. Nada igual a nós. A cada pintura que fazemos chamamos uma banda de música marcial e um baile acontece. Mas Teresa desaparece. O autor some. Quem conta a história é o quadro. O processo para chegar a este resultado é muito elaborado. Teresa utiliza um método de peeling, isto é, de descascar a pintura, como se a camada primordial fosse por demais glamurizada. Até atingir o grau de sugestionabilidade da tinta, ela mesma incapaz de sozinha achar seu objetivo. Os níveis de complexidade e de sutileza em sua pintura fazem com que suas qualidades não sejam apreendidas ao primeiro olhar. Não são pinturas fáceis. Desafiam o espectador.

Ao mesmo tempo que Teresa convida para olhar para dentro, isto é, prestar atenção em seu suporte ósseo, ela convida para olhar para cima. Cúpulas de igrejas. Parâmetro de vôo, asas, celebração, olé de jogo ganho. Uma exposição de maturidade com todo direito a champanhe e alarde.